segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Amargo

Fingir um falso sorriso seria muito mais cômodo.
- Sua pele é macia. Gosto do seu corpo. Pena que sua boca tem um gosto amargo de cocaína.
Ela se levanta nua, naquele quarto escuro. As janelas estão fechadas, mas ainda é dia. Ela pega o maço de cigarros. Ascende um e volta para a cama.
- Você não pode dizer do gosto amargo em minha boca. Você está amarga por inteiro. Não te reconheço mais.
- Acalme-se. Eu estou como deveria estar. Nula de sentimentos. Já te amei um dia. Hoje eu estou apenas aqui.
Ele não entendia aquelas palavras soltas pelo ar. Ele apenas ficava mudo. Dava um trago no cigarro e a abraçava novamente.
Lá fora caía uma garoa fina. Era começo de inverno.
Ela continuava deitada sobre o corpo dele. E ele a prendia em seus braços, como se à qualquer movimento em falso, ela escapasse dali.
Entretanto, ela queria ficar ali por muito mais tempo. A segurança momentânea que ele a proporciona lhe faz bem. Ela se mistura as bestas-humanas ao seu redor e se agarra nas paredes para não cair. E ele, continua sendo sua "coisa" favorita.
Depois de tudo isso, fingir um falso sorriso era muito mais fácil.
Tudo acabado. Tudo resolvido.
Ser feliz numa vida infeliz, é fingir. É amargo.
Como o gosto que ela carrega em sua própria boca.