segunda-feira, 3 de março de 2008

Rasgue-me

Mãos trêmulas e suando frio. Pernas se movimentam sem parar. Olhos observam tudo à sua volta. Procurando algo sem saber o quê. Um bar num beco escuro ou um lugar iluminado e cheio de gente, se tornam iguais e vazios quando se está só. Eu sei e você sabe o que é isso.
Saudade é uma coisa tão comum, que muitas vezes eu finjo não sentir para me destacar dessa normalidade.
Cansei de andar descalça por lugares desconhecidos, pois um caco de vidro pode me ferir à qualquer momento. Prefiro não correr o risco. Fixar uma idéia e tentar segui-la é um grande ponto de partida para mudanças.
Sei que sou intolerante na maioria das vezes e um tanto quanto impaciente, admito minha falha de caráter e logo alivio-me por notar que isso não interfere ninguém.
Quero um copo d’água para tentar engolir essas frases que não consigo dizer. Não critique a minha falta de coragem é a única coisa que eu lhe peço.
Penso muitas vezes na mesma história. Crio uma cena detalhada, onde existe a ação e a reação. Me vejo naqueles espelhos de parque de diversão, onde a cada passo a minha imagem muda. Não sei qual será a minha próxima forma.
Existe um oceano que separa o amor almejado e o seu provável acontecimento. Tento rir até perder o fôlego, para tentar omitir a minha perda. Já que desisti antes de tentar.
Ajo por instinto diversas vezes, o que me incomoda quando volto a minha semi-racionalidade. Ando menos existencial e egoísta, mas ainda afogo-me em meu travesseiro antes de dormir.
Quero esculpir sua imagem, nua e crua, em barro ou coisa parecida, e te jogar pela janela sem o mínimo remorso. Articulo palavras sem sentido quando lhe vejo, o que me faz parecer incoerente e fútil. Não me queixo dessa imagem dantesca, e te confesso, cansei de trocadilhos e frases sublineares.
Caio de joelhos por você e amorteço a minha própria queda. O chão é minha última escala. Obsessão que me corta como o fio de uma navalha cega. A falta de inspiração me rodeia, me persegue como um cão sem dono. Queria achar uma definição de pelo menos metade do que penso e sinto.
Eu poderia me descrever num papel e te mandar. Um papel de pão ou um papel de seda, se tornam iguais e patéticos quando o que está escrito vai além do que se lê. Eu sei e você sabe disso.

Um comentário:

Raisa. disse...

Cortando a carne, a navalha é toda colorida para distrair os olhos, estamos cegas e ainda assim preferimos os tons intensos.

Mandei uma mariposa, ela morreu de maneira repentina, era laranja e grande, caso não fosse tão linda e suspensa no espaço da minha efeição seria um susto gigantesco. Não escrevi nada, apenas o cadáver, num envelope vermelho. E ainda assim não há resposta, grandes expectativas nos fazem sangrar, ir se engolindo de maneira cruel, entretanto pior é não sentir, cruéis são as superficialidades. Talvez fosse eu num envelope, sem conseguir voar, e detestanto laranja. Talvez fosse você num papel de pão engordurado, grafado com tinta lilás. talvez não deva ser. Fatalismo.


=*